domingo, 28 de abril de 2013

JOGO DA VIDA


Jogo as sombras da vida
Num sopro de azul sem tempo
Joguei e fui perdida
Em azulada brisa do vento
Jogada a vida vencida
Na aragem do esquecimento
Sinto-me no jogo perdida
Tombados os dados pelo chão
Olho a vida azul lamento
Aos meus dias sem cor peço perdão
Por tanta dor e descontentamento
Corpo e alma desolada
Em sopros do pensamento
Vivo a vida emocionada
Sopro brisas sentimento
No azul a cor pintada
Assume-se breve alento
Fica do tempo esquecida
Tudo ou quase nada
A vida jogada vida
...
musa

sexta-feira, 26 de abril de 2013

NO SILÊNCIO ESPERAR POR TI


ao Antonio…

“Serei já, apenas, a sombra longínqua de um sonho,
Uma imagem distorcida na memória...
A marca leve da última onda a beijar a areia de uma imensa praia...
A tua praia, onde em vez de grãos de areia, se agarram ao meu corpo
palavras...
Serei já, apenas, quase nada...
Mas verdadeiramente nunca existi...

Beijo-te... Sempre....

António”

… Engano teu... apenas deixei que o silêncio cobrisse os sentidos para saber sentir esperar-te...

Beijo-te... Sempre

Barbara

Queria ser essa palavra... agarrada ao teu corpo
Ser-te a pele dos sentidos por inteiro
Queria ser as nossas palavras num só sentido
E o sentir todo pele e sentidos sabor e cheiro
O teu corpo palavra feita de letras do meu sentir
Mansidão de vogais em suor vertido
Na pele humedecida voz do olhar
Em rasgo de consoantes até me vir
Na pele do teu corpo sentir e suar
O parágrafo perdido
E contigo sentir
Nunca mais ousar
Ter-te palavras e sentidos e segredos
E a pele rasgada pela ausência
E as curvas do meu corpo nos teus dedos
E os poros lavrados nessa transparência
De palavras nossas feitas de dor e medos
E toda a magnitude do querer
Do ser toda a nossa essência
Queria somente o prazer
A volúpia da vida
A pele sentida
Da tua boca beber
Dos teus olhos saborear
A ânsia permitida
A espera aprendida
O sentir da pele da tua mão
O teu olhar namorar
A loucura da paixão
No silêncio esperar
Por ti...
...
musa

Beijo-te... sempre...

A UM TEMPO AO MAR


Sabes que voltei de uma viagem que não queria nem poderia deixar de fazer. Parti e levei comigo partes de nós feitas contigo em instantes demorados na surpresa de te ter conhecido sem nada programado. Às vezes ainda recordo a vaga que assolou à praia das minhas memórias, tombou enrolada num fardo de sentidos como pequenas areias movediças onde se enterram os meus segredos em secreto sentir do teu olhar. Humidade dos olhos semiabertos como um horizonte alaranjado em tons de melancolia rompendo claridade em sombra luz num espelho de vagas tombadas em sal de desejos e vontades. As ondas crivando sobre esse mar do teu olhar perdido em profundidade de mim onde tenho as areias espalhadas como alfinetes de cabeças brilhantes com pedras limadas de arco-íris engastadas sobre metal amarelecido pelo calor dos sentimentos. No pensar que gela no frio do imenso mar onde murmuram lembranças atravessadas de gritos risos e lamentos sempre manchadas de lágrimas tão húmidas e geladas como abraços da solidão em colo de silêncio aguado de pensamentos aferroados pela mesquinha mania de guardar o que sempre esteve perdido para o tempo. Há um redondo aberto como um coração sobre o mar frente a uma escadaria feita de pedra onde o mar lava degraus de sentidos amornecendo recordações de feitos de mãos e bocas saliva sémen e choro por dentro sem ter tido tempo de se fazer paredão carregado de emoções amortecendo a dor da perda e do abandono em infinito sobranceiro ao adiado sentido da existência mundana vilipendiada de ondas abruptas e doloridas em frieza funda fútil de vagas promessas por cumprir. É um lugar que não consigo esquecer. São pedras de algodão molhadas e frias em novelos emaranhados de perda magoa e tristeza. Na escadaria humedecem folhas soltas de areias sopradas pela força das vagas deixando cair maresia orvalhada com perfume das profundezas do mar. Há a sombria luz tépida da frialdade em riscos de espuma na orla das sensações entre humidade e secura dos sentidos aprisionados no limbo das angústias. Sinto tanto e recordo menos do que o que gostaria porque a dor da separação ainda persiste nas mãos do teu cheiro entranhado nos sulcos gretados das lágrimas que limpei por negação do sentir. Mordi por dentro em dentadas feitas de sonhos as palavras que sufoquei ao chorar por ti sentindo saudades e sufocando as mesmas para não morrer no esquecimento do teu nome e atirar pelas escadas frente ao mar a memória suja do teu contentamento. Ainda saberei sofrer com sorrisos e lágrimas vertendo da boca engasgada com o teu nome e a garganta engolindo o orgulho pranto a um tempo ao mar.
musa

Praia da Granja, 25 de Abril 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

"POESIA SEM GAVETAS" Antologia de poesia da Pastelaria Studios Editora

Apresentação da Parte I de "Poesia Sem Gavetas", será em Lisboa na Fábrica Braço de Prata, pelas 21 horas...
 E lá vos esperamos no dia 27 de Abril de 2013. Vamos celebrara a Poesia e os nossos Poetas, vamos dar voz às palavras, vamos fazer com que a Poesia seja uma festa! 




Perdoa-me vida
Esta abnegação ingrata com que sinto
As raízes da alma estendidas no além
E esta amarga dor com que me consinto
Não conseguir amar agora ter ninguém
Perdoa-me vida
O ser assim despegada desprendida
Inconformada delével nos sentidos
A musa estranha e tão insatisfeita
Essa dos sentimentos assim perdidos
Perdoa-me vida
O vil descontentamento quase rendição
A paixão inútil das palavras amargas
Não ter nem um pouco de mim compaixão
E ter duas almas como punho das adagas
Perdoa-me vida
Confessar meu omisso constrangimento
Ser duas que acabo a não ser nenhuma
Aclamar este poético louco fingimento
Pois a busca infértil é não ser só uma
Perdoa-me vida
A desgraça do corpo que nada quer sentir
Renegando os seus sentidos à alma inteira
E as mãos estendidas em desespero a pedir
Perdão na sua última absolvição derradeira
Perdoa-me vida
Este sofrer por quem não me ama e chora
De todo esse amor fingido falso forjado
E o querer esta morte que tanto demora
Pois da vida o coração se sente enganado
Perdoa-me vida
As horas manchadas de desespero fantasia
Instantes esquecidos no tempo lembrança
Minutos que são vida em palavras poesia
Como se ao sentir voltasse a ser criança

anabarbarasantoantonio

Perdoa-me vida
A minha revolta às escaras cicatrizadas
As forças perdidas os tristes pensamentos
As duras ideias tão em mim estigmatizadas
A vida essa mãe dos mais sentidos lamentos
Perdoa-me vida
Ser luz crepuscular da tarde que se esfria
Do sol-posto em sombras ausente compadecido
A escuridão aninhada pela noite findo o dia
Na cegueira solidão do olhar assim perdido
Perdoa-me vida
Esvoaçar-me frágil em céus que não domino
Qual ágil ave em liberdade plena prematura
Esta ânsia que já me esgota odeio e abomino
Pois mais me parece insana insensata loucura
Perdoa-me vida
O ter perdido das mãos controle do meu pensar
O ter amar como castigo em deturpada penitência
Deixando-me ser dos homens a cruel musa a odiar
Vivendo pois perigo dessa dualidade existência
Perdoa-me vida
As saudades breves famintas ousadas fugidias
Que em silêncio poetar se aninham no abrigo
Do peito que as solta como palavras sombrias
Como alma libertando-se das dores seu castigo
Perdoa-me vida
O voo do pássaro manhã em tempo estilhaçado
Os meus telhados de vidro opaco e embaciados
O renascer da fénix fogo cinza quase apagado
Os dias a ruir em pedra lume quase contados
Perdoa-me vida
Desabafar assim humildemente desta maneira
Em versos poetizados de perdão pelo ser
Construindo pela mão da poesia companheira
Um castelo de penas onde eu sonho viver
anabarbarasantoantonio

Perdoa-me vida
Da tristeza que tenho
Do amor que não trago
Nesta dor em que me detenho
De sabor bravio intenso amargo
Perdoa-me vida
Do tanto que não guardei
Das lágrimas que chorei
Do tanto que não pensei
Perdoa-me vida
O choro da existência mal-amada
A ausência vã sacrificada
O desgosto insatisfação amordaçada
Perdoa-me vida
O risco que por imprudência pisei
O rebate da consciência tão pesada
O rasgo do corpo e alma que maltratei
O pranto do ser em névoa fechada
Perdoa-me vida por ser tão só
Peço perdão aos teus pés alma resignada
Perdoa-me vida sem piedade nem dó
Vida assim perdoada possa eu ser calmaria
Perdão sem tempo vida agarrada
A esta força transcendente que me tem poesia

anabarbarasantoantonio

terça-feira, 23 de abril de 2013

AO LIVRO - Dia Mundial do Livro


Eterno firmamento do sentir
Alvéolos de palavras em favo de sentidos
O mel do pensamento
Doce sentimento
Arte leitura

Quantas vezes sonhos aí escondidos
Em livros de páginas com a loucura
De dizeres insanos proibidos
Em folhas escritas secura
De sonhos ressequidos
Feitos palavras livros
Páginas ternura

Tenho pelo livro feito
Em colmeia ilusão
Tantos que guardo no peito
Porque ler é uma paixão
Por vezes proibida
Por dentro enternecida
Por fora destemida
Lida com comoção

Ao livro o ser e a vida
Ao sentir em cada página virada
Que por mais que eu me sinta viva
Há em cada instante uma folha escrevinhada
Um momento da vida rasurada
Um segundo da vida escriturada
E eu viva e inteira alimentada
Por livros palavras escritas
Em folhas sagradas e malditas
musa

sábado, 20 de abril de 2013

CUMPLICIDADE


Céu e o mar confundem segredos de pele e sentidos
Há no horizonte desconhecido um caminho ousado de prazer vivo
Uma rota por decifrar em rituais e gestos incompreendidos
Luminosidade obscurecida onde o poema se perde contigo
Há na terra a palavra viva dos poemas desconhecidos
Onde poesia encontra no teu sentir doce abrigo

Chão que leitura leva ao teu estranho pensamento
Em pedaços de memórias e lembranças desprendidos
Claridade perdida em profundo sentimento
Na loucura destemperada da vida
O verso do teu Ser consentido

Afagos de poemas em rotas de cumplicidade
Com asas soltas em abraços de sentir
Versos fendidos de loucura sensualidade
Derramada poesia em seu existir

Deixo-te as palavras em caminho do tempo
Contigo saberás guardá-las por dentro
Em secreto lugar escondido
musa

sexta-feira, 19 de abril de 2013

DUETO com ARY DOS SANTOS - ORGASMO POÉTICO


Ary dos Santos | Poesia-orgasmo

De sílabas de letras de fonemas
se faz a escrita. Não se faz um verso.
Tem de correr no corpo dos poemas
o sangue das artérias do universo.

Cada palavra há-de ser um grito
um murmúrio um gemido uma erecção
que transporte do humano ao infinito
a dor o fogo a flor a vibração

A Poesia é de mel ou de cicuta?
Quando um poeta se interroga e escuta
ouve ternura luta espanto ou espasmo?

Ouve como quiser seja o que for
Fazer poemas é escrever amor
e poesia o que tem de ser é orgasmo.

ORGASMO POÉTICO

Ofereceste-me rosas vermelhas na ponta dos teus dedos
Aveludados na maciez humedecida de silabas letras fonemas
Em cada palavra um grito abafado entre silêncios e segredos
Que escondem do olhar o verdadeiro sentir dos poemas

Em cada sussurro a gemer o verso em doce louca excitação
Uma pétala da rubra rosa aflorada em infinito fogo prazer
O grito murmúrio gemido do poema flor loucura de tesão
Teu olhar e a pele e as mãos em chamas de nós a arder

A Poesia é favo ou veneno?
Travo amargo do fogo incendiado
Não mão o gozo obsceno

O Poeta fogueira Poesia
Ardendo de palavras provocado
Orgasmo poético heresia
musa

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A AVÓ E OS SONHOS DE AÇUCAR


Quando era criança tinha uma avó que fazia sonhos de açúcar.
A avó Da Laica, porque assim se chamava, tinha ela uma cadela branca de nome Laica, e antes de ser minha avó era também avó da Laica.
Fazia bolos e comida para os casamentos, organizava as festanças da felicidade alheia e da sua imaginação lá construía os sonhos feitos de açúcar branco, misturando o doce dos cristais com pétalas de flores da Primavera do mês de Maio, o mês sagrado das noivas.
Havia calor nas suas mãos cansadas de moldar flores, pétalas e folhas que coloria com os corantes alimentares e ornamentava com pérolas douradas trazendo ao manto branco de açúcar todas as estrelas do universo dos sonhos.
Lembro-me da cesta de flores que enchia de cravos ou rosas ou amores-perfeitos conforme a estação, levando para a mesa um pequeno jardim cheiroso, um odor de perfumes naturais que cintilava sobre o rendilhado do açúcar trabalhado sobre o bolo recheado de creme pasteleiro ou doce caseiro.
Nos anos setenta, no interior do país, a doceira da aldeia maravilhava com a habilidade naïf das suas mãos gretadas dos trabalhos do campo, e fazia sonhar as noivas com sonhos de açúcar branco.
Guardamos as fotografias dos bolos de noiva trabalhados pelas tuas mãos, com a alma do teu suor em muitas noites sem dormir, as horas entregues ao tempo que pouco viveste, os sonhos que não chegaste a sonhar, e as maravilhas que nos proporcionaste enquanto crianças maravilhadas com a tua arte de moldar flores de açúcar e fantasia.
As memórias da avó Da Laica, do carinho com que nos cuidavas nas tuas preocupações, nos serões abrasadores das noites de verão sem dormir, ajudando-te a vencerem o calor que te preocupava derretendo os sonhos de açúcar, as ilusões misturadas de lágrimas e cansaço e a alegria de fazeres o que mais gostavas, os dias gastos nos silêncios sentidos sobre luta esgrimida com o tempo vazio de lembranças e a certeza de que nas margens da vida deixarias humedecidas memórias como doce miragem do que o sentir poderia partilhar no trajeto das palavras agora feitas de doces sonhos em cristais açucarados.
Quando se abre o álbum das fotografias onde estás, há aromas desprendidos dos bolos a preto e branco, ponteiros rodando sonhos no relógio parado das recordações, visualizadas as cores que memorizamos pela tua voz, e cintilantes pedrarias doces em prata perlada como estrelas do universo dos sonhos, vindas repousar em guardadas memórias que ficam enfeitando palavras num álbum de sentidos de mil cores.
A minha avó dos sonhos de açúcar já partiu há muito tempo e ainda olho para as fotografias e vejo os seus olhos repletos de fantasias doces na memória grata das noivas que ajudou a casar.
Quando olho as nuvens brancas sei que há açúcar derretendo dos sonhos que escrevi com lágrimas feitas de saudade.
musa

ÁGUAS DO SILÊNCIO


Ao Antonio,

Um dia falaste-me do silêncio com todas as coisas boas que havia para partilharmos, fizeste-me descobrir os sons abafados da respiração perto do umbral dos teus sentidos, e passei ao teu lado teias de sombras tricotadas de luz cintilando no sentir do teu carinho, como se fossem rosetas trabalhadas no vidro de mil cores tecidas de gestos soprados nas areias do pensamento e entre nós a arte silente de uma telepatia por descobrir. Sabes que nesses momentos há obreiros da ilusão construindo sonhos com asas para que um dia sejamos livres de voar nos sentimentos.
Aprendi contigo a ler nas sombras as vontades ocultas do verbo moldado no teu olhar mudo, e na quietude inconstante dos parágrafos repletos de reticências ensinaste-me a procurar a serenidade perpétua das entrelinhas manchadas de hesitações sem que me fizesse nua uma só vez na crueza das palavras alimentadas pela ilusão.
O tempo passa mas tu ficas com esse silêncio carregado atrás de mim esperando… e dizes-me tantas e tantas vezes, saberás tu esperar, saberei eu esperar-te, até que ganhes umas asas e eu perca as minhas e no teu abraço aberto de todas essas penas os dois sintamos a sublimação da espera traduzida de versos e emoções trancadas em sentimental viver.
Tenho saudades do rio que fazias do meu corpo frio sobre as pedras dos teus sonhos em nudez emotiva de águas de loucura escorrendo das tuas mãos.
Há tantos eternos sentidos enternecidos nas nossas palavras que não são minhas nem tuas e do silente sofrer que deixamos na escrita feita das nossas peles embebecidas de suor e saliva lavramos o tempo que nos faz amanhecido de madrugadas e noites em solitária memória e na distância das mãos apartadas pela vida.
musa