terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

CACOS DE PALAVRAS - para ti... sabendo que estavas lá...


23:23
preciso escrever... não tenho papel nem caneta... apenas à minha disposição as teclas minúsculas do telemóvel que me faz companhia ao lado da cama, pego-lhe e ordeno-lhe que me escute a voz da ponta dos dedos nas mãos com boca e ouvidos, martelando as letras que por vezes confundo na escuridão, a luz apagada ilumina melhor os pensamentos e vejo-me ajoelhada num chão de sentir onde mais tarde virei aqui recuperar os meus cacos em palavras...

tanto que me apetece escrever os meus sentidos…

Bruma ébria que se esfuma na fleuma contraída da respiração
o bafo do olhar na noite tingida
não sei de quantas cores se tinge o nada
e a noite mais pura despida de estrelas amanhece na bruma acinzentada escuridão loucura enevoada solidão sentida onde silencio parece dormitar num sonho...
não é o luar que procuro em arabescos rendilhados no chão de tabuas brilhantes onde os pés nus deslizam a cera lustrosa... havia uma lua na casa iluminada do passado servida pelos quartos sobre a pele nua de meretrizes em repouso... e os corpos banhados de luar confundiam odores de prazeres escondidos em mãos vagarosas acendendo lamparinas de pecado em intimidade...
as lanternas vermelhas afogueavam beliscados rostos perfumados de pó de arroz e rosados lábios tingidos de frutos vermelhos a pingar dos dedos entretidos em iguarias de pele e sentidos...

23:40
as pequenas borboletas dos ventres adormecidos esvoaçam perdidas no prado dos corpos ainda verdes... andam fugidas do calor das mãos quentes...
ardem casulos fulgentes na pedraria a descoberto da miríade presa no teu olhar...

23:49
resinada e dura como a madeira esfoliada de sossego em anéis intemporais na cascara sagrada dos mais insanos sentidos carnais deixo romper de palavras o velo amaciado pelos teus gemidos sangrando a noite de uma lua por cumprir...
há um sentir silenciando mundanos sentidos... a lua deitada em muitos quartos mancha a penumbra da claridade noite...
musa