segunda-feira, 26 de novembro de 2012

DUETO com LUIS VAZ DE CAMÕES - Gonçalo Salgueiro /**Alma Minha Gentil**/



Alma Minha Gentil, que te Partiste

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

E A TERRA QUE AO FÉRETRO ASSISTE

E a terra que ao féretro assiste
O céu que de lágrimas te chora
Este corpo de saudade que resiste
Esta dor que por dentro se demora

Sofrimento que caminha nesse pranto
E sobe ao altar do céu azul de amor
Sabe-me a carne a alma tão só a dor
Descontentamento que fenece encanto

A dor a mágoa mais profunda
Em mim tão só há-de ser
Mortalha triste e funda

A Deus peço levar-me desta vida
Não mais sinto nem tenho prazer
De viver tão só assim sentida
musa

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