terça-feira, 25 de setembro de 2012

NÃO ÉS DEUS - Feliz Aniversário Pedro Chagas Freitas


NÃO ÉS DEUS

Queria fazer-te um poema
Qual uma divindade a quem se agradece
E no altar das tuas palavras deixar prece
De todos os sentidos orados

Um cirio arde luz serena

Queria entender esses sentidos provocados
Tal o tesão que fazem sentir
Intensamente admitir
Não és deus
E nessa sacralidade
Todos os teus desejos invocados
Em sagrada comunhão de palavras inventadas
Os meus olhos humildemente ofertados
Como a oração das manhãs rezadas
A uma só divindade

Não és deus

E tens um mundo de palavras a teus pés
Em súplicas de arrebatamento
Fazem-te promessas em pensamento
Na orla inversa do revés
Contrariedade da oração
Súbito contratempo
És palavra tesão
Provocas desejo
Fazes sentir
E em prece admitir
Como queria agora dar-te um beijo
musa

Parabéns PEDRO

domingo, 23 de setembro de 2012

PALAVRAS FRAGMENTOS


 És em mim o instante desta hora
Fragmentos que compõem o meu ser
És em mim o amante que demora
A palavra que dá passos a tremer

Pouco a pouco vão surgindo as claridades
Vêm presas ao teu sonho no olhar
Fragmentos que te contam de saudades
As palavras que humedecem sem parar

Embargam os meus olhos como chuva
Que não pára de escorrer p’la vidraça
São palavras lágrimas de mosto cor da uva
Fragmentos que dão ser à tua raça

São os sonhos nas quadras enchendo a alma
Palavra cantada à capela comovida
Sentimentos que a mágoa em si ressalva
Fragmentos que dentro de si são a vida

Poema invadindo de sangue palavras cansadas
Em secretas entrelinhas de um soneto
Fragmentos de veias rubras e esgotadas
No coração palpitando maduro vivo e discreto

Palavras fragmentos ungidas de emoção
Poesia num lamento enrolada a um xaile negro
Já a canto com a voz triste do coração
Sentimento que fez ninho em meu segredo
musa

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

LUA CRESCENTE DE TI


LUA CRESCENTE DE TI

A lua era um recorte
Na solidão
Altiva no seu porte
Crescia entre nós dois
Excitação sentida
Havia névoa dissipada
Na escuridão
Adormecida enluarada
Clareava a tua mão
Pedia a minha boca
Quente e louca
Crescente
Quarto de lua tingia
O meu sentir por ti
O poema que eu sentia
Em abraço te pedi
Escreve-me a cada encontro
Escrevinhar de emoções
Tumultuoso confronto
O bater de dois corações
Num rosto de instantes
Com tinta de beijos
Cumplicidades amantes
Em saliva de sentidos e desejos
Quereres proibidos
Por linhas profundas distantes
Onde sossegam vontades
Intensos preliminares
Decifra-me e eu te devoro
Faço-me cheia de ti até me amares
Na mansa neblina sobre o mar
O teu abraço ainda a me apertar
Instiga beijos e sentires
Em mãos inquietudes
No regaço de uma lua furtiva
A deambular latitudes
No meio das estrelas perdida
Na imensidão do céu
Sinto como és essa lua
E morro a cada abraço teu
Na pele impulsividade
Na tua boca nua
Na tua terna sensualidade
Uma lua que se vem
Em orgasmos luminosidade
Fases do ser e sentir
Um sonho que não se sabe de quem
O possa de amor possuir
musa

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

DUETO com MARIA TERESA HORTA - "Poema sobre a recusa"



POEMA SOBRE A RECUSA

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.

***
Como é possível não te ter
Na pele esticada de sentidos
Rasgada em endoidecido prazer
Ter-te provocado nos dedos
Pedir-te a carne a ser
O meu pecado nos meus segredos
Doce achado dócil afago
Todos os sentidos presos

Sem termos sido a cidade
Nem termos rasgado pedras
Como é possível perder-te
De raiva e ternura a ter-te
Onde crescem as ervas
No verde sensualidade
No meu olhar fome de ti
Meu ódio de conhecer-te
Querer que jamais senti
Esta profunda dualidade
Ter-te ou perder-te
No amor perdi
musa

MÃO DO SENTIR


Só queria sentir-te o peito
Flor da liberdade revolução
Do sentir silêncio da minha mão
Acostar-me a ti como num leito
Só queria sentir ordem no teu sossego
Livre leve palpitar pleito
Silenciada voz da revolução
Florescência suave medo
Onde força cale a razão
E guarde dentro de ti segredo
Essa terna mão pacificação

Só queria sentir-te o sentir
Mais do que a voz do descontentamento
A força que eleva o pensamento
A voz emocionada do povo
Que em união faz bramir
Lama raiva ódio e lodo
Toda a garra sentimento
Que governo algum ganha este jogo
Pois a luta serve o tempo
Unidos somos maiores do que o vento

Só queria dizer dos sentidos
No bater do coração nos dedos
Os gritos de revolta e indignação
Os mesmos espontâneos bramidos
Na luta guerreira dos medos
O bater da heroica manifestação
Porque o Povo saiu à rua
E trouxe a voz em timbres gritantes
Na certeza da condenação
A força de todos os manifestantes
Elegeu a verdade nua e crua
Indignados poetas de intervenção
Cantem este sentir da mão
Em liberdade de rua em rua
musa

Fotografia: José Manuel Ribeiro/Reuters


terça-feira, 18 de setembro de 2012

DUETO com DAVID MOURÃO-FERREIRA - PRESÍDIO


Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
Às vezes linho, lago, tronco de árvore,
Nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?
   
E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
É também água, terra, vento, fogo...
  
É sobretudo sombra à despedida;
Onda de pedra em cada reencontro;
No parque da memória o fugidio
 
Vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
Pois no teu corpo existe o mundo todo!

***
Do latim praesidium, que significa proteção
Serei eu teu doce seio onde te refugiares
Carne do corpo mármore para alisares
Onde o malho do desejo cumpra seu tesão

Ventre aconchego dos quatro elementos
Que a natureza gradeou de inspiração
Nem todo corpo é carne nem sentimentos
Que elegem a alma e aí se abrigarão

Sombras ocultas do sentido fugidio
Pedras da memória em despedida
Clareando tormento querer luzidio

Talvez manhã de Primavera crepúsculo Outonal
Erguida paliçada no teu corpo consentida
É toda esta minha vontade loucura carnal
musa

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

POEMA DE PELE E SENTIDOS (só para ti...)


A musa da sensualidade brotando do esplendor dos sentidos
Na poesia do amor de pele
Há rios escorrendo na brancura do leito como papel
Há jardins de poemas nas mãos florescidas de cores explodindo
Onde se bordam suspiros em encantamento de beijos
Orvalhados pelo desejo aceso eclodindo
Há uma serena provocação cavalgando dorso do tempo secreto ileso
Há um erotismo resplandecente no verso assolado pela intimidade
Há um ímpeto profundo carnal adormecido preso
Há um sentir profundo da carne da alma
Em sagrado altar de sentir
Onde a poesia se acalma
Nas tuas mãos nos teus braços

Tinha um poema de pele e sentidos
Fragmentos sentimentos pedaços
Por sentir
Por escrever

Tinha o enlace da impetuosidade
Preso na garganta do desejo
Tinha vontade do teu beijo
A brotar da sensualidade
No todo da inspiração
Em secreto tesão
Cumplicidade

Queria as tuas mãos excitadas
O fogo aceso do teu olhar
Queria a poesia do teu querer
A humidade do teu prazer
Onde eu me pudesse aconchegar
No seio das tuas mãos fechadas

E tu que só querias me envolver
No regaço dos teus braços
Em permuta de caricias faladas
Dádivas sentidas
Desfazendo nós e laços
Nos teus abraços consentidas
musa

sábado, 15 de setembro de 2012

NINFAS DO RIO


Tágides são elas que desaguam
O rio de Lisboa Tejo manso
No Porto do Douro insinuam
Que Duriádes ali têm seu descanso

Mansas bravas todas vão para o oceano
E nas tristes correntes se lhes ouve a voz
Também eu por vezes se não me engano
Sou musa que inspira todos vós

Esse mar azul que de beijos a contemplar
Nas águas de sal vai murmurando
Sonho maresia dos desejos deixa escapar

São ninfas de águas doces em contemplação
Levadas pelo Douro vão chorando
Se são mais as lágrimas e a inquietação
musa

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

RÉSTIA DE MAR


Não sei porque me chamas
porque tanto me declamas
onde eu me sinto mar

e de sonhos de uma poetisa
no embalo das ondas a naufragar
um único desejo se concretiza
de uma réstia de luz a esperança flutua
onde os sentidos pairam de sonhos
fazendo a noite iluminada de estrelas
na curva de faces misteriosas da lua
iluminando as vagas como caravelas
pedes ao mar que eu seja tua

réstia de vagas em maré vazia
balançam ondas contra as pedras
manchadas de sal e dor

de tantos poetas e tanta poesia
tantos e todos que já cantaram o amor
o mar doce inspiração
doce mar maresia
cálida fragrância odor
vagas sublime agitação
e a noite tão quieta
dentro de mim desperta
um mar de sentidos
um soluçar de emoções
um balbuciar de gemidos
inebriante canto da sereia
que dentro de mim ateia
fogo e consumições
dentro de mim incendeia
mar alterado paixões
noite de ilusões
que a escuridão
encandeia
...
musa

Praia da Granja, 00h15


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

TOI… (tu sexytasme todo)


toi...  qui m'excite... au bout des doigts
toi…  qui me hurle dans des lèvres chauds
toi…  qui me chéris et me cherches pour t'éclater

toi toute une nuit où j’ai envie de me noyer
le voyage qui j’ai envie d’entamer
dans une étroite embrasse creuser
toutes les routes toutes les voies
qui m’emmène a t’aimer
au dehors de moi

poitrine où je respire lumières nudités
peau où je m’inspire et transpire
sel et sens dans l’air déployés
et j’apprends a te tenir
avec ma langue te déguster
avec mon corps te soutenir
avec mes mains te expirée
toi et moi nous inspirés
aimer et rire

infusion de silence qui décante le temps
dans toute la transparence
de ton esprit d’amant
tu t’assoupis
et gagne la naissance du jour
comme des ailes dans l’amour
comme un instant jadis

un doux fruit mûr
dans les pâturages des matins
avec des promesses et des jures
des regards avec des mains
tout l’abandon des désirs
un mot une brisure
de poussière tendre
sans rien comprendre
route de l’univers
soupçonner et faillir
être juste vers
et mourir

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

QUEL EST LE NOM DE TON PARFUM



Il y avait un parfum dans ta peau
Une odeur de tendre ivresse
Un câlin une caresse
Une soif d’eau
Une faim de volonté
Une envie de t’aimer

Tes mains dans mes seins
Tes mains dans mes reins
Tes mains sans freins

Battus de chaleur
D’impossibles baisers
Fondus comme l’amour
Epanouie de sérénité
Les corps se battent
Sous la voute paisible des visages
Serrés dans les flammes ivres de la rage
Dans l’ascension de toutes les courbes
Comme l’obscurité se délasse turbe
Ta nudité m’accueille
Le silence me calcine
Ton amour me veille
J’aime être ta gamine
Dans toutes les directions de l’amour
Jour après jour

J’aimerais apprendre à te tenir
Parmi les mots dures et taillants
J’aimerais bien savoir te sentir
Comme je me sens dans tes mains
Comme doucement tu me fais jouir
Enivré par ton parfum
Tes yeux amoureux d’amant
Dont je ne connais pas le nom ni l’intimité
Mais comme une âme fécondée
J’ai de toi l’ivre odeur
La tendresse et la fraicheur
Tes doigts légers qui cherchent passage
Aux couloirs d’un monde insoupçonné
Je garde en moi la dignité de ton visage
Touts les seconds que je t’ai aimée
musa

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

MAR PORTUGUÊS



Venho de onde partiram
Homens que nunca cá chegaram
Destroços que existiram
Lembrar todos quantos embarcaram
Numa fé de conquista e saber
E por aí espalharam
Alma lusa um só ser
Um instante de razão
A sentir a solidão
Doce forma de viver
Amarga paixão
Rasgo e poder
Emoção

E sentiram
E amaram
E sorriram
E choraram
E voltaram

Para dar embalo a todos os sentidos
Nas traves moldadas de cascos de ilusões
Andaram por chãos perdidos
Onde moravam perdições
Medos esquecidos
Loucas tentações
Destemidos
Homens somente

E hoje poderá se pensar
Que homem há que aguente
Em tão dura conquista
Se são ou demente
E resista
Tão duro mar
Que o leve a naufragar
De onde partiu
De onde nunca voltou
De onde sentiu
De onde amou
De onde não sei

De tantas as lágrimas que chorei
Nesse mar salgado filho sem lei
Tristemente naufragado
Lembrado duramente
Sempre que alguém partir
Por tudo o que nos deu
E assim estranhamente
Me fazer sentir
O que nunca foi meu
musa

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

SABE(S)-ME AO SAL


Sabe-me a sal a pele
dos dias que o sol aqueceu
dos favos que o calor derreteu
com teus beijos de mel
no corpo praia perdida
um mar de carícias loucura
a tua mais doce ternura
que me deixa assim sentida

Sabe-me ao sal a tua mão...
Tocando minha face de sorriso
Resgata a lua, acende o paraíso
Com nossa quente paixão
Em afagos (e)ternamente
Recheados de perfume
Tudo em nós é lume
Num voo d’asas permanente

Sabe-me ao sal o beijo
num doce terno sorrir
onde a carícia desejo
outro beijo faz florir
na boca perfumada
esvoaçante sentir
a tua mão amada
outro beijo vem pedir

Sabe-me ao sal
A sensualidade que transborda de ti
Arrepio qu’em demasia não faz mal
Como é bom possuir-te aqui
Despudoradamente
Neste lençol de carne nu
Onde existe simplesmente:
Eu e tu!
Musa & Jessica Neves

domingo, 2 de setembro de 2012

HÁ UMA MUSA ENCANTADA DENTRO DO POEMA


DUETO com João Raimundo Gonçalves

HÁ UMA MUSA ENCANTADA DENTRO DO POEMA!!!


Transportam amazonas de tão longe
Dos Matriarcais infinitos
Céleres, porque o tempo urge

Doces amazonas musas de crinas ao vento

Trazem do mar segredos
Inspiram pensamentos de além alma
Doces crinas de musas ao vento

E o vento rouba do trote salpicos de poemas em cascos de sentidos

Ninfas envoltas em espuma
De onde vêm? Da pradaria abissal? Da memória do mar?

De gastas caminhadas em profundos oceanos
Como se mar fossem trilhos profanos onde poema erguesse altar

O poema ergue-se na espiral do vento
No corpo das musas o sangue fervilha
Há uma poetisa linda no fino areal

Cavalo transfigurado é o poeta manso em ventania de sentir
Vestindo as musas de encanto em manto de areias humedecidas
De doce mar a refulgir
Nas mãos do vento consentidas

E um sorriso nos lábios de esperança
Na maviosa lucidez da claridade rósea
Sente-se o cheiro do sal da maresia na pele sedosa

Cavalgar docilidade na embriaguez dança
Das águas frias no dorso do vento
Onde as tempestades murmuram poesia nos lábios das Nereidas

Ou Tágides de algas coladas no suor dos corpos
Resfolegando o cavalo suspirando a deusa em seus suores

Sagrada devoção prece de amor perdidos amores
Resfolgar de maresias silvam as rochas selvagens
Prantos poéticos de deusas suspirando palavras
Onde ainda se ouvem os cavalos do tempo

Atravessaram milénios de história
Travaram batalhas de perfumadas flores
Ouviram a canção do mar, e era amor o que traziam

Sereias seriam
Ouvem-se cantos de guerra na costa de murmúrios
À rédea solta na bruma em cachos de sentidos
Algas e conchas perpetuam o altar

São rumores nas abas do vento
Cantam memórias nos versos gritados
E grinaldas de tempo a voar
Não vão parar mais até serem coroadas de desejo

Inglória deslealdade no grito despedaçado verso beijo
Cavalgando saudade das profundezas do mar em atlântida sinfonia de solidão
Emergem nuvens salgadas de pura sedução

Há um sentir voluptuoso no toque dos corpos
Um abraço sem pudor e solitário
Na construção do poema feito de mel e sal

Acendem-se as águas fugidias das marés
O fumo do fogo do tempo encobre a lua

Chispam fulgores dos olhos absurdos tapados com vendas
Salpicos de lágrimas ou fluidos das almas
Na ardência da lua sobre as águas

Adormecem no felpo das crinas salgadas
Olhares empastados de choro
Em despertadas emoções de sal e mel
No lugre perdido ao luar

Ah! Voltaste e já são duas as Valquírias
Cavalgando na madrugada dos sonhos
Andam beijos sob a lua a adejar

Alar silenciado por entre fragmentos mar espalhado na orla dos sonhos
Era o cansaço mais leve do que o vento adormecendo madrugar
E os passos do pensamento

Romperam pela madrugada
Sob o ar quente deixado no interior da noite
Cavalo e amazona são agora recortes
Amantes do vento trazem novas doutro tempo

Despertada sinfonia sobre as águas pisadas salpicos de gritos ecoam areal
A praia embala o silêncio da caminhada do sentir
Em tão doce partilha abissal

É a canção do mar
Na rebentação das ondas que ecoam bramosas
Enche a maré contra a rota do sol
E a linha do horizonte torna-se bruma

Em ondas de pautas
Em seda de marés vivas
Em vagas musicais uma a uma
Na leda madrugada rosa em brancura e loucura esquivas
Corre a formosa amazona por entre brumas perdidas

Duas forças gigantes dó ré mi fá só lá si
Emergindo dos abismos do mar
Num vestido carnal de sensualidade mulher
No todo que há em ti

Um peito de sal e solidão e a força guerreira do pensamento
Carne e sentidos cavalgando emoções

Havia uma multidão de gente à tua espera na praia húmida de emoções
Que gritaram vivas e lançaram foguetes
Fizeram-te deusa musa inteira

Havia um areal prenhe de sentidos esperando hora de um parto por acontecer
Vertiam-se as águas dos corpos humedecidos
De correrias contra o vento estalando a pele de prazer

Era tão só uma mulher
Verticalizada imune à tempestade
E um cavalo alazão extenuado
Que o vento ancestral nela fecundara
O embrião do tempo que faltava
O todo o seu sentir procurado

Era a guelra do cio húmida e sangrenta a latejar de vida
Sopro macho do tempo num latido emocional de marítima gestação

Havia fogo nos olhos da musa prenhe
E água que baste para lavrar a emoção
Havia o vento tantas vezes aqui dito
E aterra firme do seu ventre de mulher
No lodo da lama escrito

Era a brecha desfeita na enseada da pele do peito tisnada de sol
A quietude escutando tempo e o ventre pulsando a fome de novas cavalgadas

Trouxeram-te rosas e flores pintadas de mil cores
Leito perfeito para parir amor ao sol nascer
E águas perfumadas de odores selvagens

Esperou o tempo soltar-se crepúsculo em magenta tarde perfumada
Rompendo-se o silêncio em intimidade sangrada
Tao só um grito feito pôr-do-sol para lá do horizonte

Mas não havia mais como tardar o cavalo exausto
Já tocam vindas do mar troantes trombetas com notas titubeantes
De sol a soletrar

Apoteose florida das trevas em derramada magia
Luz nascente rompe nubente cair da noite num véu de estrelas
Faz-se o sentir poesia
musa & João Raimundo Gonçalves

Ana Conceição Bernardo / ana barbara santo antonio – musa & João Raimundo Gonçalves