domingo, 29 de abril de 2012

O PORTO VISTO DOS CÉUS - Vista aérea e pouso na cidade do Porto, Portugal.



Descia das nuvens pelo sol iluminadas
Ao longe ouvia-te a voz
Um véu cinzento cobria-te de silhuetas
Moradias diminuídas e acasteladas
Pareciam casca de noz
E as gaivotas na foz
Pareciam pequenas borboletas
Num jardim de estrelas douradas
Lá em baixo erguias os braços
Por entre ruas íngremes pavimentadas
Decalcadas de solitários passos
Em corpo de rio banhando margens
Dividindo-te em duas cidades
Vestindo-te em duas paisagens
De cores nuances tonalidades
Porto e Gaia vistas do céu
A coberto de nuvens como um véu
Que o avião parece romper
Lentamente ao descer
Entre a terra e o mar
Aos meus olhos deixa ver
Rio serpenteando a brilhar
Da cidade imensidão
Manto de telhados vermelhos
Refletindo da solidão
Vidas em pátina de espelhos
As pontes a cúpula esverdeada
O verde dos parques e jardins
A Torre dos Clérigos torneada
Mãos que se agitam em varandins
Dizem adeus à cidade encantada
São outras almas que lá viveram
Que dos céus acenam à saudade
Num esvoaçar de felicidade
Com fios do tempo teceram
A ponte que desço maravilhada
Enchendo olhar de beleza
Fico com uma certeza
O Porto que vejo dos céus
Só pode ter sido mão de Deus
musa

sexta-feira, 27 de abril de 2012

OLHAR DESVIADO



Aquele dia do teu olhar desviado
Passaste por mim sem me ver
Sei que era um dia inusitado
Nada podias saber

Era um dia do teu olhar
O mais encantado de todos os dias
Tinha sido feito para te encontrar
Tantas vezes imaginado nas minhas fantasias

Nas sombras do tempo impregnado
Com a claridade da emoção
Um dia a guardar no passado
Secreto no coração

Por vezes dou comigo a pensar
Como teriam sido todos os dias
Se eu tivesse tido coragem de te procurar
Se tu tivesses vindo me encontrar
Se eu te tivesse dito tu me procurarias
Que importa agora imaginar
O que tu farias

Talvez o tempo apague
Memórias que ferem por dentro
Talvez o futuro rasgue
Velas em mastro alento
Que seguram a saudade

Talvez a felicidade
Seja esse olhar desviado
Seja apenas um pensamento
Seja a mentira da verdade
Dias em que fala o sentimento
Que nos cala a vontade
Como vela rasgada pelo vento
Em mar de tempestade
musa

ATÉ SER DIA - Os Azeitonas - Anda Comigo Ver Os Aviões




Eu teria sido a tua paixão
Que o tempo entrelaçou de saudade
Eu teria sido essa verdade
Entrelaçada entre a alma e o coração
Num ziguezague de amor e felicidade
Eu teria sido poema de uma canção
Feito um arco-íris de viva cor
A dar vida à tua solidão
Feito de doce amor
E agre sedução
Anda ver o vento
Que nos leva o olhar
Anda ver o tempo
Entre as nuvens a saltitar
Vou de braço dado contigo
No colo de um poema verde hera
De mãos dadas com um verso
Entre as estrelas do universo
Desta e doutra era
E tu vens se eu te peço
Fica comigo
Paixão poesia
E eu fico contigo
Até ser dia
E ainda assim confesso
Um dia vamos mesmo apaixonados
De braço dado entrelaçados
Em verde hera poesia
E nessa sede de te ter a meu lado
Os dois de braço dado
Voaremos em fantasia
Num beijo apaixonado
Até ser dia
musa

quarta-feira, 25 de abril de 2012

RE(de)VOLUÇÃO - 25 de Abril em Portugal Dia da Revolução

Devolvo-te os cravos
Da liberdade revolução
Os gritos vociferados
Em papel devolução
Os cravos vermelhos
Desse Abril emoção
Ainda nos espelhos
Refletido dia feriado
Luta ou ilusão
Na ponta da arma agravo
Dos dedos da tua mão
Gesto do menino
Segurando o cravo
Que mudou o destino
Do país escravo
Ainda sentido

Cravo da liberdade
Olha-se o tempo no vidro
Rebarbado rubro partido
Contam-se os dias velhos
Que gritaram um só sentido
Contra todos os conselhos
Viva a liberdade
Doida revolução
Abril perde-se na idade
Das flores enfeitando canos
Das armas da saudade
Apontadas à desolação
Fardamentos verdes castanhos
Livramentos estranhos
A marcar a infelicidade
Das ideias revolvidas
Vidas mal resolvidas
Outras tantas devolvidas
Perdurando pelos anos
Comemorando despedidas
Em lamento revolucionário
Cantigas de desenganos
Num hino reacionário
Palavras da liberdade
Poema revolução
A continuar a saudade
E esta doce ilusão
musa

terça-feira, 17 de abril de 2012

TUA BOCA


Tua boca é silenciado sentir
No gosto da minha boca
Em teu silenciado pensar
Que me faz admitir
Delineado projeto
Nas curvas do teu olhar
Piscar de olhos secreto
Que me deixa a imaginar
Arquitetura ofegante
Delírio de beijos teus
Nessa boca amante
Procurando os meus
Lábios alicerces
De construção delirante
Outros beijos que já destes
Pelo teu olhar distante
Quando parado surpreendida
Riscas no meu olhar esquisso
Projetada obra sentida
Em passe de mágica feitiço
Olhas para mim sedutor
Esboças sorriso galã
Traças linha esplendor
Como despertada manhã
Fazes-me apetecer
Ser beijo arquitetado
Colado no teu com prazer
Endoidecido provocado
Daqueles que eu possa dizer
Por um beijo quase a morrer
Entre um olhar enfeitiçado
E duas bocas a querer
Obra-prima do desejo
Um olhar por um beijo
musa

quinta-feira, 12 de abril de 2012

RIO TU(A)ELA

Ponte da Pedra - Rio Tuela - Torre de D. Chama
de Paulo Doutel (Panorâmico)


Nasci em terras do Tuela
Rio transmontano da minha infância
Até vir para Mirandela
Onde cresci citadina criança

Nascido num lago espanhol
Provinciano de Castela e Leão
É na aldeia rio húmido farol
Que alimenta dos campos o chão

Nele se lavou o precioso linho
Deu peixe em redes com fartura
Moeu o trigo na mó do moinho
Lavou o medo a dor e a loucura

Tem praias fluviais açudes moinhos pontes
Foi Via Romana de Bracara Augusta a Astorga
Alimentado de afluentes nascentes fontes
Tão transmontano como a poesia de Torga

Rio manso de românico anelado
Por uma linda Ponte da Pedra
De leito límpido consagrado
Saciando margens da terra

Pelas encostas desde a nascente
Corre pelo vale drenado
Reflete o sol a poente
No espelho do rio encantado

Alimentado de prados naturais
Margens bordadas de Carvalho Negral
Quedas em pedras lavradas desiguais
Paisagem bucólica de beleza sem igual

Águas cristalinas doces transparentes
Com trutas a saltitar por entre as fráguas
Frondosos fetos musgos verdes pedras quentes
Que no gélido inverno aquecem as mágoas

Desce selvagem ao lado do rio Rabaçal
Dando-se num abraço perto de Mirandela
Funde-se num só corpo Rio Tua aluvial
Alma colorindo do Rio Douro aquarela
musa 

quarta-feira, 11 de abril de 2012

NESTE CORPO QUE É MEU

Na tua alma
Existe a voz dos temporais
Raios de luz iluminada
Um barco chegando ao cais
Em trovões na madrugada
Existe a noite depois o dia
Loba faminta fantasia
Uivar por dentro que se sente
Gritos maduros da escuridão
Água de lágrimas nascente
A brotar na solidão
Existe a fonte
De tantos rios a correr
Barcos perdidos a horizonte
E uma outra alma a gemer
Existe um oceano
Onde eu possa naufragar
Um rio desumano
A ir pra nenhum lugar
Na tua alma vou tecendo
Caminhos já sem pressa
E o olhar vai dizendo
Ao mar já não regressa
Ficas por aqui em terra
Onde existe uma alma mansa
A tua que dentro de mim erra
E de ti nunca se cansa
Existe um tempo
De chegadas e partidas
De um porquê
E de um lamento
Evitando despedidas
Existe a alma à mercê
Dessa outra que fui eu
Que a tua escolheu
Alma que eu não escolhi
Que por dentro nunca vi
Neste corpo que é meu
musa

CAVALO DO TEMPO

Confesso não sei mais que te possa dizer
Esta obsessão que me endoidece a alma
Lama dos sentidos doidos a transparecer
Que por vezes me entristece e me acalma

Grito aos ventos no dorso dos tempos
Que cavalgam a trote em crina solidão
Essa rédea solta levando pensamentos
Tão firmes fechados na palma da mão

E abro todos os dedos um a um
Solta-se loucura prenhe de segredos
Na mão aberta não fica nenhum

Cavalo do tempo leva-me em corrida
Marcas de cascos calcados nos medos
E grito aos ventos no tempo sentida
musa

PRIMAVERA AO VENTO

Ventania de amor e poesia
Beijando folhagem aos sussurros
Folhas flores ramos em euforia
Alegre Primavera aos urros
Em cântico alegria

Escuto ramagem em estalido
Sensibilidade de renascer
A natureza em sentido
Só quer crescer

E o vento agita Primavera
Muda rumo do sol e traz a chuva
Pelo chão húmus de neblina quimera
Ergue-se ofegante numa espiral curva
Faz-se amante dos quatro elementos
A água a terra o fogo e o ar
Numa tropelia de pensamentos
Invade profundidade recurva
Contorce-se para se enamorar
Dessa intensa diversificada natureza
Que aos elementos parece orar
Provoca a Primavera em sentimentos
Veste-a de deslumbrante beleza
Na sua essência e singeleza
Musa deusa de todos os ventos
Contra todos os tempos
musa

BEIJO FANTASIA

Quero adormecer

Debaixo das tuas raízes
Num beijo de intenso prazer
Em momentos tão felizes
Que me fazes apetecer

Beijo entranhado bem no teu sentido
Debaixo do chão da tua pele
Nem estranho nem fingido
Nos meus lábios sempre apetecido
Como a abelha provando o mel

De flor em flor
Esse beijo perdido
Ainda que doce fel
À tua boca oferecido
Amargo gosto de amor
Sensual cruel

Beijo colado de tanta saudade
Docemente humedecido
Com brilho de felicidade
Ao tempo já esquecido

Beijo esse sorriso poesia
Acolhido na boca abrigo
Por vezes tão indiferente
Quando estou contigo
É a um poema que sabe e sente

Esse doce beijo fantasia
Em lábios enamorados
Causando imensa euforia
Intensos provocados
musa

AMOR FOGO LENTO

Este amor que se incendeia no peito
Que arde fogueiras de sentidos e pele
Este amor que me consome no leito
Feito de suor saliva sangue e mel
São palavras escritas nos sentidos
Por vezes com tinta de fel
Sentimentos destemidos
Em labaredas no papel
Arde amor fogo lento
Ao teu olhar atento
E a pena que te conduz
Esse amor que me seduz
Incendiado nas veias a arder
É colmeia das tuas mãos de amor
Favos peganhentos de líquido prazer
Em brasas ardidas no teu calor
Que me pega desse fogo lento
Na pele dos sentidos odor
Incendiada mecha em combustão
Quase lava de um vulcão
Jorrando sem tempo
Doce provocação
Fogo sendo
Solidão
musa

terça-feira, 10 de abril de 2012

FLORES E CHUVA

Delicada flor da amendoeira
Resiste à força dos pingos da chuva
Delicada flor da ameixoeira
Em cachos nus de verde folhagem
Orvalhada resiste à água turva
Que insiste em perturbar a ramagem
Da frondosa avelaneira
Da secular cerejeira
Da elegante macieira
Tombam gotas de chuva de flores
Espalham-se num tapete pelo chão
Misturam-se odores e sabores
Em pétalas orvalhadas de emoção
A chuva inunda o pomar
A terra e a água numa infusão
As árvores de frutos a brilhar
Sob o céu escurecido
Numa singela oração
Da chuva que teima em ficar
E o tempo agradecido
No pomar florido
Em dia desabrido
Parece chorar
musa

segunda-feira, 9 de abril de 2012

NOSTALGIA D’ALDEIA

Vesti cheiros da infância
Sabores e sentires de criança
Em chão coberto de esperança
Sorrisos de elegância
Doçura de dança

Odores interditos à melancolia
Na sensibilidade do choro rendido
Toda a aldeia em nostalgia
Arrebatando o meu sentido
Num relembrar poesia
Sonho perdido

Quis ficar no teu regaço
Da memória esquecida
Envolta no teu abraço
Minha aldeia perdida

Para sempre vou lembrar
O doce colo da avó
A bênção das suas mãos poéticas
Esteios erguidos terno olhar
Proteção de todas as pragas maléficas
Nas rezas vencidas do seu orar
Lembranças tidas de uma prece por findar
Terços tombados pelos anos consagrados
Eternizado trono seu altar
Dias na aldeia passados
Que eu ainda sei guardar
Agora memorizados
Posso descansar

Bucólica aldeia de montanha
Recortada na escuridão
De uma saudade tamanha
Que endoidece coração
Ao findar do dia
Luminosidade escurecida
Negro clarão
Alma sentida
Doce poesia

Recorta em curvas de corpo deitado
Quase uma mulher despedida
De contorno delicado
Salpicada de brilhantes
Porosidade iluminada
Coberta de diamantes
É uma aldeia encantada
A muitas léguas distantes
Para além dos montes
Sinto-lhe o cheiro fresco das fontes
Para além dos prados verdes
Sinto-lhe dos dias as sedes
Que ficaram pétalas de flores singelas
Cobrindo pastos e campos
De harmoniosas aguarelas
Sedosos verdes mantos
À sombra de floridas mimosas
De cheirosas rosas
Flores de fruto doce de amora
Odor a terra lavrada
Desse que me senti outrora
Eternamente enamorada
musa

FOLAR DA PÁSCOA


Desde a masseira até à mesa
Secular nobre tradição
As mãos da avó amassam o pão
Com ovos azeite e carnes do fumeiro
Numa salgada sobremesa
Que é lembrada o ano inteiro
Em Trás-os-Montes florido
Com cheiro a urzes giestas estevas
No forno bem aquecido
De enormes labaredas
Ficam as cinzas na fornalha
E o tijolo de cor branca
Tiram-se os folares da mortalha
Debaixo do calor da manta
Vão para o forno de lenha
Perto do rio a correr na azenha
Santificados pela mão
Já crescidos levedados
Em dia Santo de Paixão
De outros tantos consagrados
É Páscoa à mesa em Ressurreição
Espera-se o Compasso com a Cruz
Na aldeia transmontana
De Torre de D. Chama
Também aí morreu Jesus
E agora a minha mesa vazia
Já sem a companhia da avó
É uma tradição Poesia
Na azenha solitária mó
O rio continua a correr
Jesus está sempre a morrer
A avó não volta
Mas Cristo Ressuscitado
Regressa sempre em escolta
Do Compasso santificado
E o folar fica na mesa
A relembrar Cristo Louvado
Nossa única certeza
De um tempo desejado
musa