terça-feira, 29 de novembro de 2011

CASTELO DO SENTIR

Nada pode existir
Por dentro
Que seja mais duro
Do que este sentir
Este lamento

Doce brando alento
Intenso e puro
Dor de o consentir
Triste obscuro
Sem o admitir

Nada mais pode ser
Por dentro coexistir
Estranho transparecer
Como sangue a fluir


Angústia quente
Que o ser sente
Que olhar não mente
Que a alma faz ruir
Sem o corpo merecer
E parece consentir
Todo este desfalecer


E na ruína do encanto
Por sentidos de prazer
Palavras constroem castelos
Pedra a pedra tanto e tanto
No calar e no dizer


Os meus medos mais belos
São sossego e são prazer
Batalhas de ilusão
Cavalgadas na solidão


Erguem mudos pensamentos
Castelo do meu sentir
Torre do meu silenciar
E as janelas dos sentimentos
Abrem de par em par
Todo este meu bramir
Que não consigo calar
musa

ENTARDECER DE POESIA


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DOCE FOGO OLHAR

Serás fogueira
Onde doce fogo se ateia
Em chamas do teu olhar
Quente incendiário
Como faúlhas a crepitar
Desse lume milenário
Que ainda me sabe incendiar
E vem dos tempos aceso
Tocha que arde sem se ver
E de sentidos em mim preso
Me consome de prazer
Faz em mim moradia
Flamas ardentes a nascer
Não só de palavras poesia
Mas de um fogo a crescer
Chamas de lava de um vulcão
Escorre em mim de sentidos
É fogo ardente de tesão
Pele e olhar em gemidos
Fogo quente de paixão
Corpo e alma em labaredas
Bocas mãos olhos perdidos
Promessas e incertezas
Apenas desejos consentidos
Do teu olhar de doce amante
Teu jeito de amar distante
Vulcão adormecido
Por lapidar
Diamante
Sentido
musa

LISBOA


Saudade em sete colinas
Em sete letras capitais
Lisboa dos olhos meninas
Em sete iris desiguais
Choram neles Tejo rio
Canto de tristes poetas
Saudosos ao desafio
De outras tristezas despertas
Levam nas águas doce pranto
Sete palavras secretas
De choro louco de encanto
Outras letras prediletas
Voltam ao rio a correr
Casario à beira Tejo
Fazem das colinas parecer
Essa janela de onde o vejo
Nas águas transparecer
Húmidos olhos de desejo
Tantas musas de poesia
Que da pena em leve ser
Lisboa saudade melancolia
Tenho e terei até morrer
Quando voltar a nascer um dia
musa

domingo, 20 de novembro de 2011

SE SOUBERAS

SE SOUBERAS
Como a cidade tem aromas
Do teu corpo suado
As ruas as tuas curvas
Do teu andar fantasiado
Guardado em vidradas redomas
E toda eu fragmentos
Em mil pedaços negros
Saudades e lamentos
Cofre de segredos
Feitos de mil formas
Nos teus lábios a brilhar
Do jeito que me tomas
Quando desejas me amar

Se souberas
As fachadas de janelas fechadas
Que a cidade não sabe guardar
Olhares que te espreitam
Em consciências severas
Que comigo se deitam
Na noite acordadas
Pelas horas austeras
Por dentro inanimadas
Por detrás da vidraça
Choros calados
Sombras de fumaça
Olhos cansados
E o mal que desfaça
Todo esse sentir
E os medos resguardados
Por quem não sabe mentir

Se souberas
E eu nada tivesse que pedir
Estender as minhas mãos à cidade
Vagabunda andarilha e pedinte
Feita senhora da liberdade
Dessa solidão que eu finte
Entre a mentira e a verdade
Por dela ser prisioneira
E viver a vida inteira
Uma existência muda
A essa cidade surda
Que não me ouve
Só e sentida
Uma vida
Que não me coube
musa

sábado, 19 de novembro de 2011

A UM AMOR EM SILÊNCIO


Em todos os dias há um instante
Em que voltam as borboletas
Em que a pedra transformada diamante
Esconde amargas lágrimas secretas
Penedo da minha saudade
Onde a medo guardo
Um amor em silêncio
Perdida felicidade
Perdido o tempo
Silenciado

Todos os dias recordo
O amor guardado
Numa gaveta da alma
Todos os dias acordo
Lucida e calma
E dou comigo a pensar
O tempo demorado
Perdido no meu silenciar
Dentro de mim fechado
Sem o poder gritar
Chamar por esse amado
Chorar e sufocar
Sentir e calar
Choro angustiado
Em sufoco derramado

Sem o poder mais amar
Sem o poder mais tocar
Sem o poder mais beijar

Esse perdido enamorado
Que em silêncio sentenciado
Fica em mim a soluçar
Choro sepultado
Por dentro a queimar
No silêncio dos dias
Em tristezas e alegrias
Dentro de mim amortalhado
Na tumba da alma ferida
No chão do meu corpo cansado
Prisoneiro da minha vida
Que fere e sente
Eternamente
Aprisionado
musa

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

MEU SER ADORMECIDO


TALVEZ SOMENTE


 Talvez umas palavras
Rabiscadas no papel
Por dentro umas quantas mágoas
De agre doce mel
Aliviando o sentir
Do amargo fel
Por cumprir

Talvez uns versos
E algumas lágrimas sem pedir
E algumas gotas da chuva
Talvez uns beijos dispersos
E a fantasia que me iluda
Que há outros universos
Além da última curva
Talvez um poema

Talvez a poesia
Sem o perigo do dilema
Não saber o que pensar
A realidade e a fantasia
A imaginação serena
Do que se possa alcançar
Palavras versos poema poesia
E todo o sentimento
Talvez a alegria
Unicamente
Ser somente
Pensamento
musa

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CREPÚSCULO FANTASIA


Crepúsculo gélido brisa do mar
Seio onde a terra bebe
Das vagas vindas naufragar
Onde matam a sua sede
Anoitece
A praia deserta murmura
Na areia húmida desfalece
Escuridão loucura
Que sombria tece
Manto de estrelas luminosas
Enquanto na noite amanhece
Flor perfumada de rosas
Odor madeira queimada
Mistura de água salgada
Ondulam espíritos inquietos
Baila luar de prata
Brilhos desinquietos
Que o escuro desata
De nós presos no sussurrar
De sonhos despertos
De vagas bailando no horizonte
Entre a terra e o mar
Entre a noite e o dia
Dos extremos da ponte
Prestes a alvorecer
Como o escurecer
Dos cheiros da maresia
Fica o anoitecer
Crepúsculo fantasia
Mar de prazer
musa

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

VIDA INCOMPLETA

Toda a minha vida será uma poesia incompleta
Um poema por cumprir
Uma palavra por sentir
Um verso por florir

E digo-o sentido
Com a alma em lágrimas
Com o coração ferido
Com a pele em mágoas

O corpo prisioneiro das palavras
As mãos cansadas de escrever
Os dedos amortecidos pelo prazer
De sentir e de ler
Esses versos sentidos
Que falam do ser
Incompreendidos

Sem nada mais saber
Solidão soberana em reino de sentir
Trono da poetisa
Chão da sacerdotisa
Tripé da pitonisa
Lamento sem mentir
Dessa verdade que ajuíza
Não saber mais o que seguir
Em sensível entendimento

Perdida no pensamento
Em jardins proibidos
Desfloram desgostos
Afloram ansiedades
De versos perdidos
De antigos gostos
De omitidas verdades
Doidos sentimentos
De tanto sentir por cumprir
De todos os meus lamentos
Que ao corpo e alma ainda hão de vir


Saberei eu cumpri-los
Saberei eu senti-los
Saberei eu admiti-los
Tanto e tudo que nego de mim
E desse puro fingimento
Sonho com o trono do meu fim
Fica a vida por cumprir
Curto será o impedimento
Se a vida por mim não decidir
Se curto for o tormento
E tudo em mim omitir
E tudo em mim ferir
E eu não precisar mais fingir
musa


Poema de meditação purgação do SER às 11h11 do dia 11/11/11

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

NEGRO ALAZÃO


Alazão
Cavalo cor de canela
Mas eu prefiro o tição
Negro cor mais bela
Esbelto puro sangue
Árabe ou lusitano
Que na minha alma ande
Vagabundando como cigano
Por prados pradarias
Campos caminhos
Negro cavalo fantasias
Cavalgando destinos
Por entre árvores floridas
Manto branco sonhos em flor
Cavalo de duas vidas
Negra alma corpo dor
Tantas saudades sentidas
Cavalgar brancas flores
Ter por dentro um só amor
Ainda que no corpo muitas dores
Cavalo negro luzidio
Por entre tanta brancura
O que fazer deste vazio
Deste sentir loucura
Por dentro ser sombrio
Em doce cavalgar
A trote manso
Meigo serenar
Negro descanso
musa

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

REVOADA DE PENAS


Do céu cinzento
A chuva molha penas
Asas ao vento
Da areia molhada
Levantam aves às dezenas
Em estridente revoada
Bando que desatina
A água cansada

Na orla da praia caminha
Um homem sozinho
De alma abandonada
Passeia o destino
Pesa-lhe aluvião
A chuva sem tino
Esfria a solidão
Nos olhos a escorrer
Gritos de aves
Na pele a sofrer
Dores suaves
Alegrias graves

Vagas parecem adormecer
O mar parado
Tão calado
E o corpo do homem a estremecer
Por dentro o sangue cinzento
Leva-lhe ânimo alento
Dia sangrento
E as aves barulhentas
Doidas pardacentas
De penas molhadas
Vidas desencontradas
Cantam a guinchar
Gaivotas em terra
Tempestade no mar

E o homem lá caminha só
Debaixo do guarda-chuva
Nos pés húmidos lama pó
E a sua vida que não muda
musa

terça-feira, 8 de novembro de 2011

RESPIRO-TE NO VIDRO

Olhei a vidraça
Tu já lá não estavas
No vidro embaciado como se fosse fumaça
Em gotas de chuva resvalavas
Friamente molhado

A janela fechada trazia o cheiro da terra humedecida
E da rua nada trespassava apenas o cheiro inventado
A vidraça cerrada encerrava a minha guarida
Dos vidros da janela o meu olhar embaciado
A chuva que pingava sobre a minha vida
Invenções húmidas do meu passado

Olhei a vidraça com o bafo da casa impregnado
Desenhadas silhuetas de fios de cabelos
Quando o meu olhar te viu lá fora parado
E com a ponta dos dedos deixei sê-los
Fios segurando doces marionetas
A cabeça encostada à janela
Imaginando borboletas
Numa vidraça aguarela

Olhei a vidraça
Tu já havias partido
E na minha alma baça
Já nada fazia sentido
Sem saber o que fazer
Nada tinha cor
Somente gotas a escorrer
Pelo vidro humedecido
O frio do meu amor
Cortava a respiração
Em gotas de chuva dor
Dizia-te na paixão
Respiro-te no vidro
Choro-te no coração
musa

sábado, 5 de novembro de 2011

VERSO DESABROCHANDO

Sou na cama no leito aos teus pés gozo sedento
Mar imenso em meu olhar que não se sacia
Toda a fundura do desejo ledo e lento
Excitação que perdura noite e dia

Fêmea ousada faminta a precisar de sustento
O corpo em grave ânsia a pele suada e fria
E nos teus olhos esse querer opulento
Que das tuas mãos me alcança e vigia

Vontade feita das carnes do corpo lindo
Que em palavras sussurros é poesia
E em versos tesão vai descobrindo

Corpo loucura em explosão exaurindo
Trémulos os dois esgotados de amar
O cansaço como flor se vai abrindo

Lindo o verso feito de pele a desabrochar…
musa