quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PEDRA A PEDRA


PEDRA A PEDRA
Sobre o riacho
Regato dos dias
Sobre pedra a pedra
No olhar facho
Alumio fantasias
Onde humidade medra
Archote do pensamento
Luz e fogo
Andamento
Partitura
Mulher helénica
Ave loucura
Suscitando paixão
Céptica
Brandão
Em seixos ateia
Sedução
O porte erguido
Facho luminoso
O pé sentido
Frio desejoso
Pé ante pé
Sobre água caminha
Mansa maré
A vida lhe destina
Caminhar
Erguendo paliçadas
Palavras escritas
Loucas desvairadas
Cartas eruditas
Choro sobre a tinta
Onde ler se sinta
Rumo solidão
Sentir
Palavra pedra
Pedra palavra
Menir
Guardião
musa

terça-feira, 27 de setembro de 2011

CANSAÇO

Rasto de poeira sentimental
Partículas de sentidos
Sentir descomunal
Em mim perdidos
Do bem e mal

Os meus eternos cansaços
Que em instantes abrigam
Beijos olhares abraços
Tanto que me castigam
Desatados nós e laços
Que dentro de mim
Mendigam

Por bem por bendita
A dor já no fim
Quem em mim acredita
E cansada assim
Muda a desdita
Olha-me de lado
De uma inveja por cumprir
Cansada de ser julgada
Do que não pude sentir
Proibida maltratada
Interdita de repetir
Negada a consentir
Cansei-me de entender
O que não consigo compreender
Que por razão ou castigo
Que por maldade ou inveja
Que por bem ou perigo
Será melhor viver na incerteza
E no prazer do inimigo
musa

sábado, 24 de setembro de 2011

VIOLINO

Quando me tocas
É pura poesia
Em acordes de violino

Teus dedos vibram a derme
Numa excitação melodia
Trémula tangida treme
De desejo e fantasia

e… ah… na tua boca
corpo de cordas acorda louca
dedilhada pela língua extasiada
quente a vibrar esfomeada
sente a pele rosada
em doce poesia
humedecida
apetecida
sentida

fazes do meu corpo violino
domínio teu instrumento
de cordas friccionadas
que eu ensino caminho
num instante momento
pelas tuas mãos resinadas

e a minha pele doce e quente
soprada em acordes de prazer
é na tua que se sente
quase viva quase a morrer
num Stradivarius de sedução

música de louca paixão
em pele suada vermelha
cheia prenhe de tesão
em flamas chamas centelhas
retesadas cordas nas cravelhas
tocas em mim com emoção
doces melodias já tão velhas
quase a tocar o coração

místico corpo que é teu ombro
beliscado vibrado afinado
num Pizzicato Vibrato
o meu ser um escombro
em ruínas pelo teu
onde tocada me tombo
quase caída do céu

Harmónico Glissando deslizando
na suavidade da madeira
que tuas mãos vão tocando
cada corda à sua maneira
cada dedo sem tino

fazes do meu corpo violino
Sul ponticello
Coll Legno
Sul tasto

Tocas-me afinado
em desatino
sensível casto
provocado
macho latino
que tanto me seduz
meu privado violinista
que faz do meu corpo luz
musa de Ruben renascentista
que em acordes reproduz
em música conquista
pintada fantasia
tela poesia
artista
musa

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ENLOUQUECIDA

Trago dos agrados
Polme dos temporais
Sorrisos aos brados
Olhos guturais
Explodem azuis pardos
Íris como punhais
Enlouquecida
Gritos esmerilados
Entontecida
Foge a voz de dentro
Em colo de loucura
Do sentir onde penso
Insano ser perdura
Perdido do tempo
E greta-me os lábios
Doce prazer alento
Anéis de astrolábios
Compondo universos
Com fel da poesia
Beiços mordidos
Louca fantasia
Esta destes versos
Tão sentidos
Afasia
musa

DRUIDA DO SENTIR


 Esta noite invoco ao círculo do sentir
Bardos artesãos do pensamento
Faço as árvores bramir
Agito as folhas ao vento
Visionários do equinócio temperamental
Em abraços do tempo
Druida sentimental
Que vive na clareira do despertar

“sente-me toca-me coloca-me dentro de ti e faz-me sentir toda a sabedoria acumulada desde a primeira vez”

Druidesa com olhos de mar
Feiticeira talvez
Maga da poesia
Trazendo eternizada loucura
Em chão varrido fantasia
Onde ainda procura
Pérolas de orvalho
Tombadas em orgia
Poalha de luz
Perdura
Tremulo sombreado
Pelo sentir seduz
Imaginado
Range nas folhas do carvalho
Faz-se ilusão
Sedução
Assim é esta noite silenciosa
Feita de versos e prosa
musa

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ao Mestre JÚLIO RESENDE


AO MESTRE JÚLIO RESENDE

“Desenhar é ver e estar
É expor-se na nudez mais completa
Só e sem amparo”
Mestre Júlio Resende

Por detrás de ti
                O touro
E o teu corpo de olhos fechados
Vigia as cores da tua paleta
               Tons em segredo guardados
                              Por uma chave secreta
Por detrás de ti
Um dia senti
Tudo o que ver-te e sentir-te desperta
Em mim
                Quão velhas eram as formas nominadas
                            Sem fim
As aguarelas misturadas
                Em todo o teu sentir
Repouso do Minotauro no teu olhar
Denso procurar e esgrimir
                          Na força do teu pincel
No ancorar sem amparo
                         Na nudez do papel
E … agora reparo
                      Jamais olhei as tuas telas
Além das cores mescladas aquarelas
Todas as formas de vida inventadas
                     Imortalizadas pelo pintor
Todo teu intenso fulgor
Na nudez da consagrada arte
                    E hoje… aquele dia em que parte
Fica comigo o ver e o estar
                   Porque somente desenhar
É SER…

(Setembro 21/2011)
musa

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

GRISALHO SENTIR


Doce pensamento
Adoro os fios brancos
Que se instalam no meu cabelo
Química do tempo
E já são tantos
Terno sentimento
Sem fim
Adoro tê-lo
Assim
Grisalho
Prateado
Como gotas de orvalho
No meu cabelo pintado
Mar de prata
Suspiros finos
Cruzes dos caminhos
Sinais de destinos
Na cabeleira farta
Fios de sabedoria
Beleza do sentir
Doce poesia
Voltar e partir
Meus cabelos brancos
Caminhada
Regresso e partida
Alvorada
Meia-idade sentida
E já são mesmo tantos
A prenderem-se à vida
Todos quantos
Levarei na despedida
musa

domingo, 11 de setembro de 2011

MÃOS DE MULHER

Minhas mãos pequenas
Notas de uma pauta de sentidos
Afáveis macias serenas
Dedos imbuídos
Prece e pena
Pele morena
Doce açucena
Bramidos

Chegam das tuas mãos humedecidas
Tantas as lágrimas sentidas
Que acolhi nas minhas mãos frias
Cada nota terno instinto
Abertas e vazias
São o que sinto
Notas lamento
Sentimento
Ausência
Transparência
Melodia
Acordes carinho
Pena da poesia
Fímbrias do destino
Mãos do dia
Dedos do tempo
Fantasia
Toco-te
Cada nota é um sentido
Tacto sublimação
Toque fundido
Respiração corporal
Sensual paixão
Pauta musical
Mão a mão
musa

sábado, 10 de setembro de 2011

A MUSA DE CAMÕES



Por algum jardim tangendo a lira
Senhora a vejo tão bela e preciosa
Atira-me um olhar sem que eu lhe pedira
Aos olhos seus lhe ofereço rubra rosa

Das mãos guarda o tempo madrigais
Altivo canto a lírica profana poesia
Elevam-se as vozes como punhais
Cravadas no peito da noite e do dia

Que desengano embrulha essa paixão
Hostes desordeiras travam-lhes a paz
Incitam a batalhas pela nação
Do amor a ira não é capaz

Mais lhe merecia sorte engenho e prazer
Doce Infanta Maria que o reino entristece
É por ela que tanto amor arde sem se ver

É o poeta que a tem em conta e arte
Camões de rimas seu amor lhe tece
E na alma e coração com ela parte
musa

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

MANCHA NEGRA

Soerguida da terra seca e rude
Por minha humidade choro
Elevo do chão corpo açude
Molhada quieta me demoro
Mancha negra
A terra toda treva
Do chão se eleva
Altaneira torre dos corvos negros
Clareando a mancha dos meus medos
O corpo ganha forma o rosto se desnuda
Mostrando à terra inteira seus segredos
Sem que ninguém lhe valha ou acuda
Transforma-se água pura cintilante
Cascata de lágrimas tombando no chão
A treva negra dura acutilante
Que corvos esvoaçando em negridão
Fazem brilhar luminosidade diamante
Mulher corpo brilho sedução
Da terra toda doce amante
musa

JARDIM DAS OLIVEIRAS

São mil anos de altiva firmeza
A terra toda alimentando bruta seiva
Da chuva a sede pureza
Tempo que das tempestades se eiva
Manhã de tanta canseira
Contamina toda a beleza
Tronco altar vigor
Luz cegueira
Rudeza
Esplendor
Certeza

Cascara sagrada
Templo aberto de oração
Alma mutilada
Em cada acto da paixão
Nervos à flor da pele
Descrédito desilusão
Entre o doce e o fel
Tronco transfigurado
Comoção
Raiz loucura
Do chão aos ramos crucificado
Rosto de oliveira
Emoção ternura
Verdade prisioneira
Mentira secura
Dois mil anos de incerteza
Jardim tormento
Sustentada leveza
Lamento
Pureza sentida
Sopro alento
Luz da vida
musa

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

PALETA DE PELE


Quantas vezes meu corpo meus lábios rosados
Foram paleta de cores leito do pincel
Quantos tons diluídos mesclados
Foram tintas na minha pele
Paleta de doces sentidos
De cores consentidos
Pele e boca

E como louca
Deixava-te pintar
Em ternas pinceladas
A pele e a boca
Morder beijar
Tintadas
As mãos e o olhar
Partilhávamos sentidos
Era a paleta e a tela
Entre húmidos gemidos
A nobre arte da aguarela
Pintadas fantasias
Feliz paixão
Na paleta de cores poesias
Onde ainda te guardo no coração
A mais bela tela de todos os dias
A recordar com emoção
musa

domingo, 4 de setembro de 2011

MULHER PHILAE

Base desordem do teu sentir
Pedra metal alvenaria madeira
Na minha pele começas a esculpir
Pegas-me de qualquer maneira
Sem eu te pedir

Fuste dos teus sentidos
Profusão de relevos
Entre sussurros gemidos
Fissuras estrias sulcos nervos
De outros tantos desprovidos
Clássicas caneluras
Entalhes detalhes consentidos
Em nossas tantas loucuras

Aneladas
Caneladas
Cóclidas
Corolíticas
De tambores
Entrelaçadas
Estriadas
Fasciculadas
Galbadas
Monolíticas
Prismáticas
Rostradas
Rusticadas
Salomónicas

Corpo arquitrave do sentir
Mãos Jónicas do ser
Cariátides a se insurgir
De relevos de prazer
Na dureza do tesão
Dóricas sensações
Lavradas emoção
Pedra de todas as paixões
Coríntias carícias
Nervuras leões
Paraíso das delícias
Toscanas insanas
Portões de doces beijos
Compósitas profanas
De escultóricos desejos

Sensual comoção capitel
Do olhar pleno extasiado
Coluna adornada pele com pele
Do nosso sentido provocado
A começar em clitóricos pilares
Instantes momentos ensejos
De todos os tempos desejos e beijos
Onde tu me deixares
Começar a sentir
Corpo Philae
Mulher coluna
Dedo a dedo esculpir
Inteira una
musa