domingo, 7 de março de 2010

MULHER-A-DIAS SEM TEMPO

Sete estações de uma MULHER
E não é uma qualquer
É uma Mulher-a-dias
Mulher de todos os dias
Mulher sem dias

Passa por ela o tempo
Veste-a de ásperas estações
Despe-a de sentimento
Em nudez contradições
Aridez do pensamento
Numa pauta de variações
Leva-lhe por vezes o alento
Dessa vida de paixões

Olhar devorador
Seios fartos
Sexo pudor
Dor dos partos
Ato de amor


Desdobra-se polvo gigante
Na cama faz-se amante
Na vida dona de casa
Do cansaço distante
Entre os lençóis uma brasa
De um fogo vil diamante
Que a consome de descanso
Em tempero leve e manso
Quase desprotegida
Morre dia-dia sentida
Tempo remanso
Dura vida

Alimenta o filho ao peito
Outros dias já na boca
Deita-se no leito
Ama como louca
Uma mão para a cozinha
Dobra a espinha limpa o pó
Estendendo a roupa se anima
Sabendo que dela ninguém tem dó
Varre o chão da sua solidão
Engoma a roupa perfume de vapor
Sem tempo de levar à boca o pão
Trabalha silenciada sua dor
E no fim dos tempos
Esvoaça um sorriso
Liberta asas dos seus tormentos
Mostra-se feliz quando é preciso
musa

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