sábado, 27 de junho de 2009

CORPOS (COM)SENTIDOS A (A)MAR - III

querias-me uma manhã
cheia de fogo
e de brancura
desperta vã
madrugada em teu desejo
como se olhar te implorasse
teus dedos sem lisura
deixando que um raio nos trespasse
memória dos lençois onde morro
manto preso de loucura
leito consagrado onde deixo e vejo
marcas de pecado e de ternura
vergas no sono em que me deito
defendo consentida a tua espada
sem que ergas paliçadas no meu peito
deixo-me ser na noite a tua fada
e rugas de prazer em mim desfazes
na revolta do sentir já sem pressas
sentes de mim o que não sabes
tens de mim sem que o peças
e pouco a pouco sem pedir
descobres de mim húmidos vales
rasgos sulcos veios
tréguas de desassossego
louco despertado
tiras-me e me dou
cego e ledo
anseios e males
por ti te sou
esse corpo
tão amado

sexta-feira, 26 de junho de 2009

CORPOS (COM)SENTIDOS A (A)MAR - II

suavidade que me traz vida
doce ilheu maresia
fazendo-me sentir mar
terna doce fantasia
vaza intímo secreto
qual vento disperso em ceu aberto
onde eu percorro os teus contornos devagar
dedo a dedo com a palma da mão
ainda em segredo sinto teu desejo
saborei-o a tua comoção
teu doce intenso vibrar
nos teus olhos vejo vontade
dobrando-os lentamente contra o peito
sinto-lhes a saudade
e penetro em delírio a tua noite
de qualquer jeito esporeando éguas
no teu sangue conquistado
as línguas como rosas
entrelaçadas de tréguas
teu olhar gozas inflamado
os lábios como fogueiras
a tua boca para a minha boca
em despertada paixão
e sem que tu queiras
o teu corpo a barca
a minha pele teu lago
teu olhar minha sede que te marca
em teu sorriso sedução meu desejo
tudo que trago
no grito de palavras vejo
assumidas climax de sentidos
suprema ousadia
já sem o sentimento
só queria
ser-te toda de pedidos
só queria ser-te um beijo
e sermos dois
sermos loucos de vontade
para depois
perdidos no tempo
já sem idade
lembrar momento
intensidade

CORPOS (COM)SENTIDOS A (A)MAR - I

fui na noite procurada tua ilha misteriosa
saimos de mãos dadas na escuridão
fizeste-me sentir tão desejosa
delicada flor entregue em tua mão
pena não ser o Rafael
e deixaste-me apetecida
nesse teu olhar doce mel
perdi-me consentida
mas agora procuro-te o rosto por saudade
que ao mesmo tempo me acalma e me incendeia
e continuo cheia de vontade
desse teu fogo que me ateia
em teus abraços fazes de mim
vulcão que se insinua na terra suas entranhas
e sou na tua mão louco frenesim
de ondas trémulas e estranhas
fazendo-me estremecer
em sonoros uivos sentidos
tiras de mim doce prazer
vibrando em intensos gemidos
sem querer acabo por eclodir
espasmos em doce excitação
nos teus lábios meigo sentir
de chamas e lava fluída erupção
que de cheiros humidos escorre
por todas as curvas e linhas de água doce
e na tua boca morre
como se vida fosse

segunda-feira, 22 de junho de 2009

QUADRAS DE MUSA

toco-te a pele queimando afogueada
foges de mim num rasto serpenteado
deixas círculos sinais que não dizem nada
serem sal do corpo exausto molhado
voas no meu olhar esbelta ave rapina
rasante invades lento pradaria trémula
brilhas luz intensa afogueada divina
rubro meu sentido vazo de ti incrédula
pousas faminto tuas garras sombreadas
dormente penetras meu chão endurecido
presa de vontades assim tão dominadas
jorro fluído espesso corre doce expelido
teme-me deus sem trono ou bordão
sou tão de palavras feitas sentidos
esventra-me morde-me de sedução
vai tira de mim espasmo ou gemidos
queres-me eu sei o quanto cobiças
de versos seduzes meu sentir amar
olhas soslaio minhas ancas roliças
o corpo e a mente que fazes vibrar
e tem-te deus poeta timido ousado
inventa palavras em versos carícias
preliminares de um ser desesperado
querendo seduzir em suaves delicias
solta-te leve de que és feito matéria
palavras insanas de que me prendes
com essa tua louca escrita galdéria
sem de verdade dizeres o que sentes
queres-me de corpo dado em sentidos
cobiças seios que te ficaram no olhar
moldas desejos de mil cores vestidos
nas mãos teu querer intenso palpitar
serei essa mundana musa irreverente
que te pede de palavras provocação
teus gostos rouba secreta consente
em sensual ousada inusitada paixão

MAR MADRIGAL

por marés gastas na pedra madrugada
sonho a tarde em que se lavam dos dias
momentos em sombras espelhados
no convés delirio madrigal mar
contemplas sôfrego dias contados
paixão martírio crepuscular
anoitecida ocre avermelhado
laivos de cor fusão tingindo olhar
fim de tarde em ti ruborizado
instante do céu próximo ao horizonte
poente cor gradiente entre o azul do céu
e o escuro da noite fingindo astro fulgente
vestido de um lusco-fusco breu
em seda sob véu de uma aurora polar
Valquírias bruxuleiam singelas
tímidas de luz afogueadas
fluorescente brilho âmbar
de labaredas espelhadas
no mar serenidade
do crepusculo fogo
na tarde do teu olhar
imensamente ruborizadas
águas em chamas deixam passar
veleiro do sonho em ardido mar solidão
ondas deliram queimam salgadas
pôr do sol acontecido
onde sonhos vão
a navegar
sol arrefecido
profusão

SER-TE COMO NAS ASAS DE UM RIO

Ser-te como nas asas de um rio
em voo rasante pelo teu desejo
turvando suavidade com que sonho
fazes ondular o meu corpo
prazer doçura que antevejo
em imensidade mar
vagas que em ti se espraiam espelho
desta sede de amar sem horizontes
e de adormecer em recônditos desejos
de um incontido olhar
como água vertendo em fontes
que se esconde nas margens profundas
de um sereno mistério da noite
onde dimensão de um tempo que nos acolhe
resiste para ficar a eternidade
desprendida de carícias ou de um açoite
sentada no sorriso das palavras que não diremos
vou fiando esta vontade que não nos assuste
nem fique presa às nossas almas
nem cansada de permanecer nas margens
do silêncio tido entre nós
enquanto as ondas invadirem calmas
sem transvazarem medo
apenas loucura desperta pelo cheiro sem voz
e em marés onde correntes nos procuram
haja murmúrios da nossa pele
a sussurrar baixinho onde perduram
mergulhos da nossa louca vontade
a sermos vagas quando já não houver mar
e no teu leito possa correr rio
em jorros de felicidade
nascente aberta no teu peito
assim eu saberei
num tempo preso por um fio
que é chegado momento
do teu curso afluente se soltar
e entenderei
que é hora de me agarrar
ao sentimento
de permanecer em ti
para sempre
sem tempo
de amar

CONFIGURAÇÃO DE LUZ

Bravia configuração
de halos de luz
teoremas de dor por resolver
que de medo negro me seduz
logaritmos da alma
a marear razão
héstia apagada quase a morrer
entre um sim sentido
e um quase não
caminho de luz
que os meus olhos procuram
em passos de solidão
agora desprendida
raios penumbra solidão
que de dor seguram
ilusão
claridade dos olhos
assim despida
como secreta áurea de segredo
a um mastro de velas
já partidas
fico agarrada com medo
de afundar
em águas escurecidas
tal vil e cruel
degredo
se dão tantas
mas tantas vidas
num desejo
ficar
perdidas

DEGREDO ILHA

fiz das penas meu degredo nessa ilha
invadindo margens por entre breu
ave de rapina pelo poema anilha
preciso do teu corpo sobre o meu
quero que movas montanhas
me dês a terra e o céu
rompas com as mãos carícias
penetres minhas entranhas
escaves em mim delícias
preciso do teu ser em mim
em profundo vale do meu desejo
saciar-me de sentidos sem fim
deixar raízes tronco folhas crescer
pela humidade de um beijo
preciso de ti por amor
por vontade até morrer
do vendaval da tua voz
do teu frio e do teu calor
do que ainda não senti
do teu mastro ardente algoz
porque a mim me prometi
por loucura ou por juizo
quero-te porque te preciso

VIM SER

... Vim ser
na dócil escarpa
desse teu silêncio
sentir florescer
despenhei-me em gritos
abandonei cheiro e tacto
roçando tua pele
usando teu olfacto
misturei-me de ritos
de puro prazer
... vim ser
de insanos beijos
de olhares lampejos
sensual provocação
ousar paixão
de palavras desejos
fundir coração
ter-te ilusão
segredo
... vim ser
no teu olhar o medo
nos lábios sedução
carícia loucura
luminosidade
em flor
… vim ser
aberta a tua mão
ternura
gélido calor
vaidade
enternecer
por ti
felicidade
procura
aqui

TEMPO FUNDIDO EM BARRO

trago o tempo fundido
em sulcos de pele
por ti rasgados
os teus beijos
de barro
lavram em mim
gostos desejos
loucos pecados
vales montanhas
planícies sem fim
trago o olhar perdido
corpo arado de loucura
nos lábios doce gemido
na boca húmida secura
trago adentro terra de encanto
o ser sentido sem pressas fendido
soltas raízes de leite derramado
cresces rio invadindo a margem
espalhas teu ser em qualquer lado
deixas alegria sonho pranto
dócil poeta selvagem
que de palavras amo tanto

EM TUAS MÂOS

senti tuas mãos
como frio vidro
de um espelho usado
reflectida nelas
gesto primitivo
eterno ousado
levei-as a percorrer
meus sentidos
abertas janelas
o vento entrou
deixei-as tocar
desejo esvoaçou
em mim provocado
deixei-as deslizar
gostos acendidos
olhares cruzados
nossos gemidos
até nos cansar
felizes gozados
nossos seres
de insanos
prazeres

SILÊNCIO GRITO

trepo
em teus sentidos
intenso fluente
imaginar
sou toda eu
de vidas sonhos
que já me tiveram
e agora vencida
em tua gruta
venho repousar
versos
que outras almas
um dia me deram
esta tua gruta
de galerias
lagos
clareiras
de brilho intenso
em lâminas miríades
de mil formas
retalhada
de mil maneiras
abrigo o caminho
obscuro ser
que em ti guardes
tive-me aqui
de belos ramos
frondosos
na penumbra
gélida
do chão mortalha
entre folhas secas
e rebentos viçosos
um silêncio grito
que me fere
e talha

AINDA QUE ANDES POR AÍ

… Ainda que andes por aí
Amo-te onde ninguém te vê
Onde a vibração dos corpos a amar
É eternamente intensa
Com sentido de alterar
Breve imensa
Rumo das nossas vidas
Sem querer que fiques preso
Semeio em ti meu silêncio
Promessas permitidas
Devo-te corpo inteiro …
Ainda que andes por aí
Serás sempre o primeiro
Tenho-te onde o tempo parou
Prolongo-me em ti
Ser que tanto me amou
Não quero que desapareças
O teu olhar queima-me a pele
Colisão de desejos
Nunca me esqueças
Ama-me sem medos
De muitos beijos …
Ainda que andes por aí
Me tenhas no mapa dos teus dedos
Em leito de longa espera
Os dois prometidos sem compromisso
Efémera quimera
Fecho os olhos onde me procuras
E já o meu ser em ti submisso
Muito depois
Me entrego de corpo e sentidos
Gesto esquisso
De muitas loucuras
Feitas pelos dois
Em momentos
Prometidos

GARÇA CONDOR

os dois envoltos
fizeste-me amor
de actos soltos
da tua vontade
tiveste-me lancil
em pedra burilada
de paixão e saudade
fui trajecto em prumo
no seio das tuas mãos
fui teu destino teu rumo
a estrada caminhada
neste fim de Abril
fui areia em grãos
solta dos teus dedos
toda eu a gemer
fêmea no covil
sem pudor sem medos
fizeste-me amor
rasgada de desejo
no seio do tempo
em mil delicias num beijo
tentador sentimento
fui garça e tu condor

MENINA

Claro enigma
Fende a pele nascendo seios
A púbis florescendo tímida agreste
As mãos sulcadas de salientes veios
Ousando segurar delicada veste
Repousando túrgidas promitentes colinas
O corpo se inventa arabescos e formas
Arqueia se espraia em ondas felinas
Sem respeito de normas
Deixa de ser menina
Tira dos sentidos rasuras
Cresce sua crina
Das mudanças leituras
Guarda cicatrizes
Travessuras
Criando raízes
Faz-se mulher
Em dias felizes
De muitas
Loucuras

MULHER

Pedaço de chão arado sem pressas
Corpo lavradio rasgado em sulcos de sentir
Tronco levitando em passos trepando
Formas de sentidos prestes a florir
Sem que me peças
Digo-te quem sou
Mulher que no tempo guardou teus segredos
Agora de palavras toda me dou
Abrindo teus caminhos sem receio sem medos
Deito-me na cama contigo a meu lado
Faço-te o amor de beijos carícias
Procuras-me nas horas de ritmo cansado
Entregas-te dolente às minhas delícias
Sem que me peças
Digo-te quem sou
Arma proibida nas tuas mãos de arqueiro
Atiras rompante sedução em flechas
Indicas caminho para onde vou
Distante destino no todo e por inteiro
Mulher consagrada de ventre fecundo
Corpo inusitado de luxúria e prazer
Cobiça desmedida em quase todo mundo
Flor germinada mãe ainda por nascer