domingo, 11 de janeiro de 2009

ÂNGELUS

Sonhei-o
Silhueta alada rompendo do inconsciente
Era eu
Corpo esguio negro esbelto
Asas levantadas braços abertos
Ferindo-me o olhar sorridente
Entre um coro de cupidos com liras doiradas
Num leito de rosas brancas ao luar
Parecendo um bosque de anjos misteriosos secretos
Num bailado de figuras aladas
Como se a memória acontecida fizesse ovação silenciosa em pleno altar
Onde círios negros difundiam aroma de cera
Exalado do interior de capelas revisitadas
Num velórios de sentidos
A dormitar
Perturbante
Aquele sonho onde os poros queimam de sedução
Descia pano de bruma mórbida perpétua penetrante
E eu consciência rastejava sobre as pedras frias
Vagueando insana distante
Sobre negro chão
Mascarava num parto prematuro a ténue claridade
Círculo de memórias ensanguentadas
Flutuando no ar húmido possuída e fumegante
Por cima das pedras mordidas ao vento choro do céu
Miasmas e trevas sinistras já sem idade
Eu vi-o
Ângelus de asas escancaradas
Cobrindo-me em seu aconchego descia sobre a razão sem véu
E toda eu me prendia em aranhas de tinta charcos de escuridão
E ele alí à minha frente
Delicadeza de pedra burilada
Demente
Os braços estendidos ocupados pelo livro aberto
E porquê não eu
Alma exaurida do pensamento num cerimonial silêncio gotejava
No sono desperto
De luar lambia os contornos da angelical silhueta presa no breu
Anjo que não voa
Anunciava
Das trevas líquidas minhas lágrimas mortais
Ao lado a cera tombava em pérolas escaldantes
Queimava
Qual figura de proa
E eu acordava
Nunca mais
Como antes

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