terça-feira, 11 de novembro de 2008

Carta do gato MIKI para a MUSA

Musa minha de meu dono! Musa única mulher! Como eu queria levar-te por meus telhados, em noites de lua cheia, vielas estreitas e sombrias, fedorentas misteriosas, correndo os caixotes do lixo, os terraços da vizinhança, como eu queria trazer-te a ele, como quando lhe trazia pequenos ratitos, só para lhe mostrar a minha agilidade de caçador felino, e vê-lo tão triste... amada dele... vê-lo tão só... quanta dor para um gatito solitário, ver seu dono ansioso, agitado, confuso, perdido numa frieza inteira de corpo e sentidos, tristeza de sensações e emoções... Mas nos seus leves gemidos há calor! Musa! Há amor escondido para descobrir, montões de carinho, toneladas de meiguice! Eu que o diga Musa!
Eu que o sinto há tantos anos, que lhe encho o colo de mimos, lhe respondo com um miau miau satisfeito, com um ronronar de gratidão, lhe dou a pata, recolho as garras quando com ele troco carinhos, olho-o nos olhos e compreendo a sua insatisfação, a sua verdade, a sua saudade, a sua vida sem norte, a sua sorte incompreendida, a devassidão dos seus sonhos e tu, Oh Musa, que sonho de fantasia, Musa, irás tu prometer-lhe?! Que fica dito de ti Musa, em tão pouco desse olhar azul como o meu, desse pêlo dourado como eu, desse jeito de felina, dengosa, gostosa, menina já sendo mulher, atrevida no jeito, tímida no vasto olhar, sensual nos sentidos e dentro do teu peito tantos dias prometidos... mas e agora... sem o veres, sem o sentires... como ficas tu Musa... como fica teu corpo sem seus beijos, tua pele sem suas caricias, tua boca sem suas delicias, tuas mãos vazias de seu toque, das suas ainda frias, sulcadas de veios azulados, aquecidas em teus seios maduros e resguardados, e nos passos inseguros, vais ao seu encontro quando te pede... e volta desse lugar levando consigo toda a saudade de um beijo...
Já não existo por aqui minha Musa... já nada sinto... sou apenas a alma de um gato que muito viveu, feliz e alegre ao lado do seu dono... contente de o ver por perto todos os dias, de o poder cheirar e nele marcar território... mas que teve o seu fim... findou seus dias por aqui. Levei a vida de um vadio de telhado em telhado, sempre com esse meu dono, chamando por mim, tratando-me assim, com mimo e carinho, e agora será sempre alguem que muito amo, que muito estimo, e me preocupa meu dono minha Musa! Sem o saber por aí, desorientado, confuso e amedrontado, perdido no meio de suas eternas vidas por resolver... mas que hei-de eu fazer....
Já tive minhas sete vidas... não tenho mais nenhuma... já não posso viver para tomar conta dele, roçar-lhe as pernas, miar de afecto...
Dá-lhe tempo bela Musa... deixa-o encontrar-se de si mesmo, deixa-o só!

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